Um conto, três pontos

Dolores, Tereza e Elisa, três irmãs, três afetos, três caminhos que desviam-se no entardecer e encontram-se no anoitecer de suas vidas.

A mãe italiana, ruiva e bonita, o pai espanhol, bravo e com olhos azuis tão límpidos quanto a água que descia na bica no fundo do quintal.

Dolores, então com 11 anos, ficou órfã de mãe, assumindo assim a criação de suas irmãs, a organização da casa, o cuidado com o pai e a administração do pequeno comércio, chamado de “venda”, naquele mundo de meu Deus, quando o pai, às vezes, ausentava-se por semanas.

Dolores na oração;
Tereza na contemplação;
Elisa na falação.

Passaram-se anos, Dolores casou-se com Apolinário, um português garboso e preguiçoso, com ele teve dois filhos, para a cidade mudou-se, mas vendeira continuou.

Tereza casou-se com João, um fazendeiro, fez-se professora e na roça continuou, tornou-se parteira e benzedeira, madrinha de tantos quantos pela sua mão vieram ao mundo.

Elisa, tão mimada e mimosa, casou-se com Elias, moço bonito e trabalhador, que de tão bom marido dizia-se ser um bom pai, fez-se também professora, que até surdo-mudo ensinou a ler e escrever, sem nem saber como.

Passaram-se a encontrar esporadicamente. Dolores, montada em uma charrete, ia vê-las na roça, lugar tão belo, cheio de vida e afeto.

Dolores, Tereza e Elisa, viúvas ficaram.
Tereza e Elisa, para a cidade mudaram.
Dolores novamente a cuidar das irmãs.
Tereza e Elisa morreram.
Dolores vendeira continua…