Era uma vez, um menino que chegou a este mundo silenciosamente. Chegou já sabendo tudo o que iria viver. E silenciosamente foi crescendo e sabia que era muito amado. Observava o mundo, as coisas, as pessoas. Tinha uma curiosidade de saber o que os segredos guardavam. Uma gaveta? Que coisas eram guardadas lá? Um carrinho? Como era feito? Um robô? Como as engrenagens eram montadas?
Movia-se ritmadamente em compasso com os sons que sua cabeça musicava. Gostava de rolar a cabeça no ritmo desses sons, enquanto os pensamentos rodopiavam a mente, sem chegar a lugar algum.
Sua mão esquerda junto com seu cérebro direito corriam o lápis pelo papel transformando os riscos em lindos bonecos.
No silêncio, na observação e na curiosidade foi crescendo.
O riso não era fácil, mas quando vinha iluminava tudo.
Compreendia e aceitava cada pessoa como eram.
A vida, às vezes, difícil de confrontar, mecânica até, mais fácil vivê-la virtualmente.
Mas no fundo de seu ser ansiava por uma grande mudança, a libertação, que depois descobriu que não era fora, era dentro. E que para qualquer lugar que fosse estaria lá dentro.
Então um dia resolveu desmontar aquele robô, para ver como era a máquina. E para sua surpresa, a máquina era só uma máquina, bem feita, é bem verdade, todas as peças eram bem encaixadas e colocadas de jeito a funcionar perfeitamente.
Aí ficou lá observando as peças e pensando que se talvez pusesse ali um pouco mais de óleo, talvez ficasse melhor ainda. Assim fez, lubrificou tudo e remontou o robô. Maravilhoso como ele funcionava mais macio e mais flexível. Ficou tão bom que resolveu ir viver d’além mar, a bem da verdade no meio de um mar gelado e com um céu cinzento. Mas a cor desse mar, só vendo que era azul!
Lá o robô começou a fazer coisas que parecia muito diferente. Experimentando coisas novas, algumas boas outras nem tão boas. Deixou algumas para trás porque parecia que às vezes faltava um pouco de lubrificação. E assim foi seguindo. De repente encantou-se por uma robô loira, linda, diferente, mas como chegar até ela? Será que ela iria querê-lo? Gostaria dele? Ah! Melhor deixar pra lá. Mas a mente robótica girava os pensamentos e fazia a máquina vibrar. Olha a máquina vibrava diferente na presença feminina. Então foi ficando triste, triste porque a máquina feminina parecia ficar inacessível. Aí o robô resolveu viajar, tirar umas férias. Assim fez, cuidou melhor de si, alimentava-se com bons fluidos, reviu amigos, recebeu carinho, amor e cuidado que até então não se permitia receber. Descobriu que podia ser ele mesmo sem vergonha, sem medo, porque todos eram iguais, as diferenças pequenas, que fazem a grande diferença, só importava a ele mesmo.
E quando subiu no avião de volta, voou junto com ele. Aí encontrou-se com a robô e deu a ela um presente, e o melhor, conseguiu chegar próximo dela e se mostrou. Ela então apaixonou-se e ele também. Oh! Eu consigo, eu posso.
Então, depois de algumas dificuldades que foram solucionadas, tudo foi seguindo. Então o robô depara-se com algo que não esperava. Mesmo rodeado de gente, viu-se só novamente e de novo na encruzilhada. Para onde ir? O que fazer? Qual caminho seguir? Ah! Mais fácil recuar. Mas puxa-vida, eu quero casar com a robô, quero seguir dando passos na vida. Porque eu descobri que o sol às vezes brilha, que o céu às vezes é azul, que o mar é sempre azul, que o mundo é grande, que as estrelas brilham, que os pássaros cantam, que as florestas florescem e que as pessoas sorriem!
Bem, é hora de levar o robô a ficar mais avançado! Mas como? Pensou, pensou e resolveu que vivendo com coragem, a tecnologia ficaria mais aprimorada. Porque daquele jeito estava muito chato.
Descobriu que dentro dele tinha uma chavinha escondidinha que era para ser ligada no comentos de transformação. E naquela bagunça toda, ligou a chavinha e algo parecido com vontade, com coragem, com determinação, começou a movê-lo. Descobriu-se um pouco mais do que um robô. Sabia que de agora em diante sua vida teria outra atitude. E ele resolveu buscar algo que ele já sabe o que é para fazer. Não sabendo se ainda está em tempo para este ano. Mas, que com certeza, para o próximo ano sim. Ah! Quando a chavinha foi ligada, parece que ele lembrou-se de uma coisa. Lembrou-se de onde realmente veio, de uma coisa tão grande, mas tão grande, que ele viu… era o vazio e o silêncio da sua consciência maior. Que tão bem ele conhecia. E então ele soube que a chavinha só abriu a gavetinha de uma parte da consciência que já estava lá só aguardando a sua atitude de girá-la e abrí-la, para continuar tendo a sua experiência humana com muita, muita alegria e gratidão, por lembrar de si.